- Vera Regina
Que tal mudar os padrões e quebrar o Mito da Wonder Woman?

Tenho me dedicado ao tema do desenvolvimento sustentável e à questão da mulher. Além da equidade de gêneros, que faz parte dos objetiovos de desenvolvimento sustentável, vejo outra relação bem importante. Ao abordar as questões do mundo consumista no qual estamos vivendo percebo uma relação estreita no que diz respeito aos processos utilizados na busca de soluções. Olho para o caminho que a mulher vem percorrendo desde os anos 60 para conquistar seu espaço e vejo como o mito da mulher maravilha foi construído. Impressiona-me perceber como nós mesmas colaboramos para a criação deste estereótipo.
Quantas vezes nos pegamos julgando umas as outras em função deste padrão da mulher perfeita? “Ela não é uma boa mãe, pois ela trabalha!” – “Ela não é uma boa esposa, não sabe nem organizar as tarefas de uma casa!” – “Ela nunca vai encontrar seu par, pois ela é muito decidida, quer fazer tudo sozinha!” – “Ela não deve ser muito ambiciosa, apesar de ter resultados, ela deixa claro que seus filhos são sua prioridade!” - São tantas as críticas que tecemos sobre nossa performance.
Quando falamos de eco-eficiência em desenvolvimento sustentável, estudamos e trabalhamos para melhorar o modelo existente. No que diz respeito ao meio ambiente, seria, por exemplo, reduzir o consumo de gasolina por km rodado. Em relação à questão da mulher, estamos lutando dentro do sistema existente para encontrar a equidade. Com certeza isso foi necessário, pois precisávamos conquistar direitos básicos, como por exemplo, direito ao voto, direito à defesa nas questões da violência doméstica e do estupro.
Assim como a eco eficiência não é suficiente para atingirmos o desenvolvimento sustentável, percorrer o alvo do mito da mulher perfeita não nos levará a conquistar nosso direito de equidade. Muito pelo contrário, há muita gente se aproveitando disso e explorando este mito. Muitas mulheres se apegaram a essa lenda para se sentirem empoderadas, pois precisam ser as melhores em tudo! Melhor esposa, melhor mãe, melhor profissional, melhor filha, melhor amiga... Muito esforço para pouco resultado efetivo, quero dizer, resultado para a mulher. Segundo uma Pesquisa da Discovery Home & Health em parceria com a britânica Jo McIlvenna, 90% das mulheres latino americanas sonham com um melhor equilíbrio entre a vida pessoal, profissional e familiar para serem felizes. Aparentemente, somos perfeitas para todos. E nós nisso tudo?
Assim como na questão ambiental, precisamos desta eco-eficiência que melhora o existente. Mas precisamos sobretudo mudar os padrões! Precisamos parar de querer provar que merecemos nosso lugar através da agregação de tarefas no nosso dia a dia. Precisamos nos desapegar desta necessidade de provar que podemos ser perfeitas, que somos capazes de fazer tudo e muito melhor que os homens. Vocês já viram algum homem lutando para ser perfeito em tudo? Hoje já conquistamos um espaço importante e é hora de mudar o modelo da luta. Temos que lutar para ter espaço E liberdade de escolher em função do que é importante para cada uma de nós!
No que diz respeito às questões ambientais, mudar de padrões significa mudar a maneira de fazer! Por exemplo, ao invés de somente reduzir o consumo de gasolina por Km rodado, utilizamos mais transporte coletivo, mais bicicleta! Isto significa mudar hábitos e rever os modelos nos quais nos aprisionamos. Significa ampliar a visão sobre o assunto para encontrar outras maneiras de enxergar o mundo e a situação para poder encontrar a melhor solução para cada uma de nós. Um exemplo simples, a licença maternidade: não temos que lutar para aumentá-la, mas sim para ela ser licença parental! Assim tiramos o ônus sobre a mulher profissional! Isso é possível a partir do momento em que trabalhamos os valores que nos mobilizam. Também é necessário se empenhar em aprender a se desapegar. Não dá para ser a melhor em tudo e querer ser feliz!
Como seria possível sermos felizes correndo atrás de modelos ditados externamente? A moda muda e eu fico como? Ontem era lindo ser executiva, hoje é lindo ser mãe dedicada! E ai? Que tal ser aquilo que eu considero importante? Somos antes de tudo seres humanos e cada um com a sua essência.
Cuidar de sua felicidade não tem nada a ver com ser egoísta. Minhas experiências me fizeram aprender que antes de querer ter um comportamento eu preciso ter atitude! Para saber cuidar bem dos outros, precisamos saber cuidar bem da gente. Pessoas felizes transbordam felicidade e iluminam quem está em sua volta!
Simbora contribuir com sua felicidade?
(embora deriva da expressão antiga «em boa hora»)